Quando falamos em medicamentos, é comum pensarmos nos benefícios que eles trazem para o controle de doenças, alívio de sintomas e melhora na qualidade de vida. No entanto, o uso de remédios — principalmente os de uso contínuo ou aqueles tomados por conta própria, sem orientação médica — pode ter um impacto significativo no coração. E como cardiologista, vejo com frequência situações em que um medicamento mal indicado ou mal acompanhado compromete a saúde cardiovascular de forma silenciosa.
Hoje, quero te explicar como alguns medicamentos interagem com o coração, quando devemos ficar atentos e, acima de tudo, por que a automedicação pode ser um grande risco à sua saúde cardíaca.
O coração sente tudo que acontece no corpo
O coração é um órgão extremamente sensível e responde rapidamente às alterações químicas do organismo. Isso significa que qualquer substância que você coloca para dentro — seja um remédio, um suplemento, um chá ou até mesmo um alimento — pode, de alguma forma, afetar a função cardíaca. Em muitos casos, os efeitos são benéficos e até esperados, como no caso de remédios para controlar a pressão arterial, o colesterol ou os batimentos cardíacos.
No entanto, quando falamos de medicamentos não indicados especificamente para o coração, mas que afetam seu funcionamento, precisamos de atenção redobrada. Antibióticos, anti-inflamatórios, antidepressivos, anticoncepcionais, remédios para emagrecer ou para insônia — todos esses têm potencial de interferir na saúde cardiovascular, dependendo da forma como são usados e do histórico clínico de cada pessoa.
Antiinflamatórios e analgésicos: os campeões do uso indevido
Talvez os medicamentos mais usados no dia a dia sejam os anti-inflamatórios e analgésicos, como ibuprofeno, diclofenaco e naproxeno. São vendidos sem receita e estão em quase toda casa. O problema é que o uso frequente desses remédios, especialmente por pessoas hipertensas ou com insuficiência cardíaca, pode causar retenção de líquido, aumento da pressão arterial e, em casos mais graves, sobrecarga do coração.
O uso prolongado, mesmo em doses baixas, pode comprometer o rim e piorar ainda mais o quadro cardíaco, criando um ciclo de deterioração silenciosa. Sempre oriento que esses medicamentos sejam usados com parcimônia e, de preferência, sob supervisão médica, especialmente em quem já tem alguma comorbidade.
Antidepressivos e ansiolíticos: aliados ou vilões do coração?
Vivemos tempos em que a saúde mental ganhou protagonismo — com razão. Mas junto com isso, cresceu o uso de antidepressivos e ansiolíticos. Alguns deles, como certos inibidores da recaptação de serotonina ou benzodiazepínicos, podem interferir nos batimentos cardíacos, causando bradicardias (ritmos lentos) ou arritmias.
Isso não significa que esses remédios não devam ser usados — pelo contrário, são essenciais em muitos tratamentos. Mas devem ser prescritos com critério e monitorados ao longo do tempo, principalmente se o paciente já tem histórico de alterações cardíacas.
Emagrecedores e estimulantes: os perigos que ninguém vê
Remédios para emagrecer, como os à base de anfetaminas, termogênicos e outros que prometem queimar gordura rapidamente, são um capítulo à parte. Eles são, de longe, alguns dos que mais agridem o coração. Aceleram os batimentos, aumentam a pressão arterial, podem desencadear arritmias e até infartos — inclusive em pessoas jovens.
Infelizmente, muitos desses produtos são vendidos como “naturais” ou “fitoterápicos” e acabam sendo usados sem nenhum controle. É importante dizer: o fato de algo ser natural não o torna seguro. A natureza também produz substâncias tóxicas. Toda substância ativa tem potencial de benefício e de risco.
O coração e as interações medicamentosas
Outro ponto que merece destaque são as interações entre medicamentos. Muitas vezes, o problema não está em um único remédio, mas na combinação entre eles. Um medicamento pode potencializar o efeito do outro, ou, ao contrário, anulá-lo. Isso vale, por exemplo, para anticoagulantes, medicamentos para arritmia, anti-hipertensivos e diuréticos.
É comum que pacientes idosos, com múltiplas doenças crônicas, tomem vários medicamentos ao mesmo tempo. Por isso, o acompanhamento com o cardiologista é essencial. Nós conseguimos avaliar o impacto de todas essas substâncias no sistema cardiovascular e ajustar a dosagem ou substituir aqueles que oferecem mais risco.
Automedicação: uma ameaça silenciosa ao coração
A automedicação é cultural no Brasil. Seja por falta de tempo, por excesso de confiança ou por influências externas (como as redes sociais), muitas pessoas começam a tomar medicamentos sem qualquer orientação médica. E o que começa como uma dor de cabeça ou uma insônia passageira, pode acabar em um descompasso cardíaco sério.
Sempre que possível, converse com seu médico antes de tomar qualquer medicamento, mesmo os de venda livre. E se você já faz uso contínuo de remédios para o coração, é ainda mais importante prestar atenção a qualquer outro medicamento que for acrescentado à rotina.
E quando os remédios são, de fato, amigos do coração?
Claro que não podemos demonizar os medicamentos. Muito pelo contrário. Os avanços da medicina cardiovascular nos últimos 30 anos são impressionantes, em grande parte, graças ao desenvolvimento de remédios eficazes para controlar pressão, colesterol, insuficiência cardíaca, arritmias e muito mais.
O que precisamos é usar esses recursos com responsabilidade. Tomar os remédios certos, nas doses corretas, com o acompanhamento profissional adequado, é uma das formas mais poderosas de prevenir infartos, AVCs e complicações cardíacas graves.
A decisão que salva vidas
Cuidar do coração vai muito além de comer bem e praticar exercícios. Envolve também saber o que colocamos dentro do nosso organismo em forma de medicamento. Às vezes, uma simples cápsula tomada sem orientação pode alterar significativamente o funcionamento do sistema cardiovascular.
Como cardiologista, meu papel é te ajudar a fazer escolhas mais seguras. Se você toma medicamentos de forma contínua ou se tem dúvidas sobre algum remédio que usa no dia a dia, marque uma consulta. O cuidado preventivo ainda é o melhor remédio para o coração.
O Doutor Felipe é um cardiologista experiente e pode te ajudar a cuidar da sua saúde cardiovascular. Agende uma consulta e invista no bem-estar do seu coração! Clique aqui e agende uma avaliação!