O Dia das Mães é sempre carregado de emoção. É aquele momento do ano em que paramos para reconhecer, agradecer e celebrar a força silenciosa que molda nossas vidas desde o primeiro batimento do nosso coração: o cuidado de uma mãe. Mas, como cardiologista, não posso deixar de propor uma reflexão neste dia tão simbólico: quem está cuidando do coração das mães?
Por trás de cada mãe existe uma mulher com sentimentos, sobrecargas, desejos, medos e — muitas vezes — pouca atenção à própria saúde. Em meio à rotina intensa de cuidar dos filhos, da casa, do trabalho e de todos à sua volta, muitas mães negligenciam um órgão que simbolicamente e biologicamente representa a essência da maternidade: o coração.
Neste post, quero falar com você que é mãe, filho, filha, cuidador ou cuidadora. Vamos conversar sobre o amor materno e seu impacto sobre a saúde do coração, os riscos invisíveis que muitas mulheres enfrentam e como podemos, de forma prática e carinhosa, cuidar do coração das mulheres mais importantes da nossa vida.
O coração da mulher: diferente, complexo e mais vulnerável
As doenças cardiovasculares são, ainda hoje, a principal causa de morte entre mulheres no Brasil e no mundo. Apesar disso, muitas mulheres — especialmente mães — ainda não se enxergam como parte do grupo de risco. Isso ocorre, em parte, porque os sintomas das doenças cardíacas em mulheres muitas vezes são diferentes dos sintomas clássicos observados nos homens.
Enquanto um homem infartando pode apresentar dor forte no peito irradiando para o braço esquerdo, uma mulher pode sentir apenas cansaço extremo, desconforto abdominal, suor frio, tontura ou até uma ansiedade incomum. Esses sinais são frequentemente ignorados ou confundidos com estresse, problemas digestivos ou emocionais. E é aí que mora o perigo.
Além disso, alterações hormonais ao longo da vida da mulher — como gravidez, uso de contraceptivos e menopausa — impactam diretamente a saúde cardiovascular. No período pós-menopausa, por exemplo, o risco de infarto aumenta significativamente, já que há uma queda na proteção natural dos estrogênios sobre as artérias.
A carga invisível da maternidade
A maternidade é, para muitas mulheres, uma fonte profunda de alegria e realização. Mas também pode ser exaustiva — física e emocionalmente. O cuidado constante com os filhos, as noites mal dormidas, o acúmulo de responsabilidades, a sobrecarga mental, o trabalho dentro e fora de casa… tudo isso cria uma tensão crônica no organismo.
Esse estresse, quando contínuo e não gerenciado, se transforma em um fator de risco real para o coração. A pressão arterial sobe, a frequência cardíaca se altera, o corpo libera mais hormônios do estresse, como o cortisol e a adrenalina — e tudo isso pode provocar inflamações silenciosas nas artérias.
Mães muitas vezes priorizam tudo e todos, menos a si mesmas. E isso se reflete diretamente na saúde do coração: consultas adiadas, exames esquecidos, alimentação desregulada, sono de má qualidade e pouco tempo para exercícios físicos.
O amor que protege precisa ser recíproco
Se o coração de uma mãe é símbolo de cuidado, carinho e entrega, talvez o maior presente que filhos e filhas possam dar no Dia das Mães seja justamente um olhar atento à saúde cardiovascular dela.
Pode ser uma conversa gentil incentivando a ida ao cardiologista. Pode ser uma caminhada juntos. Ou o preparo de uma refeição saudável compartilhada em família. Pequenas atitudes que dizem: “eu me importo com você, com o seu bem-estar, com a sua saúde.”
Esse amor recíproco tem impacto real. Estudos mostram que mulheres que se sentem apoiadas e valorizadas por suas famílias tendem a manter melhores hábitos de saúde e enfrentam melhor o envelhecimento e as adversidades. Ou seja, cuidar do coração da mãe também é cuidar do nosso próprio coração.
Mães com histórico de complicações na gestação: atenção redobrada
Um aspecto que precisa ser mencionado, especialmente neste período de homenagens às mães, são os riscos cardiovasculares associados à gestação. Algumas mulheres desenvolvem condições como hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional ou parto prematuro.
Essas situações, apesar de muitas vezes controladas durante a gravidez, indicam um risco aumentado para doenças cardiovasculares no futuro. A medicina já reconhece essas gestações como “eventos sentinela”, ou seja, sinais de alerta de que aquela mulher pode desenvolver, mais tarde, hipertensão crônica, insuficiência cardíaca, infarto ou AVC.
Portanto, se você é mãe e teve alguma complicação durante a gravidez, converse com seu cardiologista. Monitorar a pressão arterial, o colesterol, o peso e a glicemia deve fazer parte da sua rotina de cuidado.
O autocuidado materno como ato de amor
É bonito ver mães fazendo de tudo pelos filhos, mesmo nos dias mais difíceis. Mas é ainda mais bonito — e saudável — ver mães que se permitem cuidar de si mesmas. Que entendem que estar bem é o melhor jeito de continuar cuidando de quem se ama.
Cuidar do coração vai além de tomar remédios ou fazer exames. Significa também desacelerar, respeitar seus limites, cultivar o descanso, escolher alimentos que nutrem e caminhar com frequência, mesmo que sejam 20 minutos por dia. Tudo isso fortalece o coração — literalmente.
E, principalmente, envolve saber que não é egoísmo se priorizar. Pelo contrário: é um ato de responsabilidade afetiva com a própria vida e com aqueles que mais amamos.
Neste Dia das Mães, celebre com cuidado, escuta e prevenção
Neste 12 de maio, meu convite como cardiologista e colunista é para que cada família, além das flores e mensagens, também ofereça presença, escuta e incentivo ao cuidado com a saúde da mãe. Que tal marcar um check-up para ela? Ou mesmo agendar aquela consulta que vem sendo adiada há meses?
E para você que é mãe, receba essa data com a ternura que ela merece — mas também com o compromisso de cuidar do seu coração. Seu corpo, sua história e sua saúde valem o esforço. Lembre-se: quem cuida merece também ser cuidado.
Que este Dia das Mães seja repleto de afeto, mas também de renovação. Um ponto de partida para transformar amor em atitudes saudáveis, para que o coração de quem sempre cuidou da família possa bater forte por muitos e muitos anos.
O Doutor Felipe é um cardiologista experiente e pode te ajudar a cuidar da sua saúde cardiovascular. Agende uma consulta e invista no bem-estar do seu coração! Clique aqui e agende uma avaliação!